OS
NOVOS “ARES” QUE SOPRAM NA AMÉRICA DO SUL
Nesse
fim de ano de 2015, dois dos principais países da América do Sul foram às urnas
em pleitos que sinalizam importantes mudanças nos cenários nacionais e
regional.
ARGENTINA
:
Em 22 de novembro, a Argentina elegeu o
empresário Mauricio Macri como novo presidente, encerrando um período de 12
anos sob o comando dos Kirchner (primeiro Néstor e depois sua esposa Cristina).
BREVE HISTÓRICO:
Néstor Kirchner foi eleito no ano de
2003 em meio à mais grave crise econômica da história argentina. Em seus quatro
anos de mandato, Néstor adotou políticas sociais e conseguiu reorganizar as
contas públicas, recolocando o país no caminho de crescimento. Com a
popularidade em alta, Néstor não teve dificuldades para emplacar a candidatura
de sua mulher, Cristina, eleita presidente em 2007.
Cristina
Kirchner logo de imediato já entrou em choque com o Clarín, principal
conglomerado de imprensa argentino, o que contribuiu para o desgaste de sua
imagem. A partir do segundo mandato, iniciado após obter a reeleição em 2011, a
economia voltou a se deteriorar, com o aumento da inflação e do endividamento. A
Argentina também enfrentou uma onda de greves que foi minando a popularidade de
Cristina.
Com
todo esse cenário e com o descontentamento da população argentina, a mudança
era inevitável e com os rumos atuais da economia ficou claro com o resultado
das urnas, que daria a vitória ao oposicionista Mauricio Macri. Empresário
bem-sucedido, Macri indica que adotará uma política econômica mais liberal, com
maior abertura ao mercado e menos intervenções do Estado.
VENEZUELA:
A Venezuela realizou eleições legislativas no
dia 6/12 que tiveram expressiva vitória da oposição. O resultado representa o
primeiro revés eleitoral dos chavistas – grupo político-ideológico ligado ao
ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013.
BREVE HISTÓRICO:
Depois de décadas de golpes e governos
corruptos, que privilegiaram as elites e acentuaram as desigualdades sociais, a
Venezuela elegeu Hugo Chávez em 1998, que tinha em seu projeto de governo,
batizado como “socialismo do século XXI”, uma forte presença do estado na
economia e assim,Chávez ampliou o
controle estatal sobre o petróleo, lançou programas de reforma agrária e
habitacional e conduziu uma diplomacia hostil aos Estados Unidos. Em seu
governo, a Venezuela reduziu a pobreza e a desigualdade. No entanto, Chávez foi
acusado de centralizar o poder e sufocar a oposição.
Logo
após a morte de Hugo Chávez, em 2013,o seu aliado Nicolas Maduro foi eleito presidente com um
projeto de dar continuidade ao chavismo. Mas em seu governo a situação econômica
piorou. A inflação disparou, e o país vive uma grave crise de desabastecimento.
Para piorar, com a queda no preço do petróleo, principal item de exportação da
Venezuela, o governo viu suas receitas minguarem. A polarização política se
radicalizou, com a direita apoiada por setores da classe média exercendo forte
pressão sobre o governo de Maduro.
Com
o agravamento desse cenário em 2015, Maduro e seu governo se desgastou e perdeu
a maioria na Assembleia para a Mesa da Unidade Democrática (MUD) nas eleições
de 6 de dezembro. Com isso, a oposição agora tem poder para mudar leis, aprovar
reformas constitucionais e até convocar uma Assembleia Constituinte.
O QUE MUDA COM ESSE NOVO
CONTEXTO NA ARGENTINA E NA VENEZUELA:
Até
a década de oitenta do século passado, muitos países sul-americanos foram
governados por ditaduras militares, como Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e
Paraguai. A transição para a democracia nos anos seguintes foi marcada pela
adoção de políticas liberalizantes, sob influência dos Estados Unidos e de
organizações como o Fundo Monetário Internacional. Medidas como desestatizações/privatizações
e abertura dos mercados nacionais a empresas multinacionais atraíram
investidores, mas essas ações não se traduziram em aumento do bem-estar e da
riqueza. Nesse período, a desigualdade social na região, que já é uma das
maiores do mundo, se acentuou.
Com
a eleição de Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, acabou influenciando uma onda
de esquerda na região, sinalizando o esgotamento deste receituário neoliberal
que tinha ganho muita força na região , principalmente a partir do início da
década de 1990. Nos anos seguintes, as eleições na América do Sul alteraram o
panorama regional até a formação do seguinte quadro:
– Bloco bolivariano: sob influência
da Venezuela, países como Bolívia e Equador elegeram governantes que conduziram
políticas econômicas alinhadas com o chavismo. Esses governos eram tidos como “CHAVISTAS”.
– Esquerda moderada: outros países
também elegeram governos de esquerda, ainda que alinhados com as estruturas do
mercado mundial. Nessa situação podemos incluir o Uruguai, Argentina, Peru,
Chile e Brasil. Obs: o Chile chegou a
ter um presidente neoliberal ( Sebastina Pineira) , porém nas últimas eleições a
esquerda voltou ao poder com Michele Bachelet.
– Bloco conservador: esse grupo de países era composto por Colômbia
e Paraguai – com a posse de Macri, a Argentina deve fazer a transição para este
grupo.
Agora
a discussão é, se com a vitória da direita nas eleições da Argentina e da
Venezuela, a América do Sul será influenciada por uma nova onda conservadora.
Mas, apesar de o resultado das urnas refletir um desgaste dos governos de
esquerda nesses dois países, ainda é muito cedo para generalizar e definir um
veredito final.
É
importante que destaquemos que se por um lado a Venezuela está em uma crise
profunda, Bolívia e Equador vem mostrando bons resultados econômicos, o que
credenciam os atuais governos a se sustentarem no poder. No caso do Uruguai que
elegeu no ano passado seu terceiro governo consecutivo de esquerda e mantém
certa estabilidade econômica, podemos fazer uma previsão de continuidade dos
avanços do governo de Jose Pepe Mujica. Quanto ao o Brasil, há 13 anos sob o
governo do PT, estamos vivendo uma forte recessão e uma grave crise política,
com a presidente Dilma Rousseff sob forte pressão de impeachment.
Todos
esses cenários fazem com que a América do Sul seja um “caleidoscópio” de diferenças
sociais, econômicas e políticas e por isso, é prematuro apontar que se trata de
uma tendência regional, principalmente porque os países que integram esses
blocos de esquerda não apresentam um desempenho econômico homogêneo.
Prof. Kléber Caverna
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