sábado, 14 de agosto de 2010

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

Internacionalização da Amazônia

Este é um dos temas mais polêmicos dos últimos anos. O medo de uma internacionalização da Amazônia esta pauta de todos os países que possuem em comum este explendoroso patrimônio da humanidade. Mas a grande pergunta é:

-Existe realmente o perigo da internacionalização da Amazônia?

Leia a seguir um reportagem publicada pela VEJA on-line no dia 13 de fevereiro de 2002 ,sobre esta temática:


Ninguém diz que a Estátua da Liberdade pode ser roubada dos Estados Unidos, ou que alguém vai tirar a Torre Eiffel da França. O boato de que a Floresta Amazônica pode ser amputada do mapa do Brasil, no entanto, é recorrente – talvez pelo fato de a floresta estiver longe dos grandes centros do país, e ser para quem mora neles um lugar inacessível, quase mítico, terreno fértil para lendas. O medo da cobiça internacional sobre a região começou no século XIX, quando um tenente da Marinha americana, Matthew Fontaine Maury, reivindicou a abertura da navegação no Rio Amazonas para barcos estrangeiros. Foi o bastante para que se pensasse que os americanos queriam anexar a Amazônia, assim como haviam feito com o Texas ou com a Flórida. A lenda teve várias ondas ao longo do último século e meio. Entre outras coisas, dizia-se que os missionários americanos que catequizavam os índios tinham interesses bem mais ambiciosos do que levar a palavra de Deus aos silvícolas. Recentemente a paranóia tomou a forma de um boato on-line. Circularam na internet e-mails segundo os quais um livro didático americano já apresenta a Amazônia como região internacionalizada. As mensagens mostravam até a página do livro, estampando um mapa acompanhado de um texto de acordo com o qual, com a internacionalização, a floresta estaria a salvo dos governos "irresponsáveis e autoritários" da América do Sul. O mapa e o texto, claro, eram falsos. Um grupo de discussão na internet localizou dezessete erros no inglês, algo inadmissível num livro didático. A obra, An Introduction to Geography, de um tal David Norman, nunca apareceu, embora tenha sido feito um rastreamento exaustivo nos Estados Unidos.
A maioria dos que enviaram cópia desse e-mail a amigos o fez, claro, sem más intenções. Eles viram o mapa, ficaram irritados e, antes que pudessem refletir e concluir que se tratava obviamente de um absurdo, repassaram a mensagem e esqueceram o assunto. Existem, no entanto, alguns grupos na sociedade brasileira que acreditam seriamente que a perda da soberania do Brasil sobre a Amazônia seja iminente – e essas pessoas também usam a internet para divulgar suas idéias. Entre os urdidores da tese estão generais aposentados do Clube Militar do Rio de Janeiro, associações militares espalhadas pelo país, integrantes da esquerda acadêmica e marxistas radicais, alguns deles ex-integrantes do Partido Comunista Brasileiro reunidos no Núcleo Luiz Carlos Prestes, entidade que se abriga no PDT de Leonel Brizola. As argumentações seguem o figurino da teoria conspiratória, conforme a definição elaborada pelo jornalista britânico Adrian Quinn no livro The Age of Anxiety: Conspiracy Theory and the Human Sciences (A Era da Ansiedade: Teoria da Conspiração e as Ciências Humanas). O espírito conspiratório, de acordo com ele, consiste em fazer ligações entre fatos disparatados. Mesmo que esses fatos sejam reais – às vezes são –, a tese resultante é freqüentemente uma maluquice, porque o cimento que os une está apenas na cabeça de quem elaborou o raciocínio.

Populismo rastaqüera – A maneira como surgiu a teoria de que a Amazônia está prestes a se tornar uma zona de controle internacional monitorada pelos países ricos ilustra bem essa definição. Circula entre grupos ligados a partidos de esquerda e também entre militares uma lista de frases de líderes mundiais que defendem, supostamente, uma soberania compartilhada da Amazônia. Um exemplo: "Ao contrário do que os brasileiros pensam a Amazônia não é só deles, mas de todos nós", teria dito Al Gore em 1989. "Seria ingenuidade achar que não há ligação entre uma coisa e outra", considera o advogado Oscarino Arantes, coordenador-geral do Núcleo Luiz Carlos Prestes. "A idéia é criar um ambiente político mundial que torne a tese da internacionalização admissível, em consonância com a idéia de globalização." O fato é que nunca nenhum país ou entidade internacional séria reivindicou direito algum de soberania sobre a Amazônia, e sempre que uma autoridade deu qualquer declaração infeliz sobre o assunto a respectiva diplomacia se encarregou de desmentir. Algumas das frases da lista foram ditas claramente em contextos bastante diferentes. Outras constituem apenas populismo rastaqüera. "Poucas coisas dão mais votos no Primeiro Mundo que defender a preservação de florestas alheias", acredita o economista Ronaldo Serôa da Mota, especialista em Amazônia e em ecologia, ligado ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Há quem diga também que a presença massiva de ONGs ecológicas na região faz parte do plano. Outro disparate. "Parcela significativa das ONGs defendia inclusive que a Floresta Amazônica fosse propriedade estatal, como ocorre na maioria dos países florestais. O Greenpeace, por exemplo, nunca falou em internacionalização", informa o historiador e ambientalista José Augusto Pádua, ex-coordenador de florestas do Greenpeace na América Latina.

A outra teoria, a da invasão militar, é ainda mais mirabolante e carrega fartas doses de antiamericanismo. "Desde a independência, os Estados Unidos têm como política invadir territórios alheios. Eu não dou dez anos para que eles se voltem para a Amazônia, região que cobiçam há mais de um século", prevê o general Hélio Ibiapina Lima, presidente do Clube Militar do Rio de Janeiro. Não deixa de ser irônico que o Núcleo Luiz Carlos Prestes endosse inteiramente a tese do general Ibiapina. "Os militares mudaram muito, e queira Deus que o espírito de defesa da Amazônia professado por eles se espalhe pelo Brasil", discursa Oscarino Arantes, admitindo que tem muitos amigos na caserna, com quem troca figurinhas freqüentemente. É uma convergência curiosa. Ambos recorrem ao Plano Colômbia para calçar suas teses. O general Ibiapina atenta para as bases militares que os americanos estariam plantando na região. Arantes recorre ao argumento de que os "ianques" bombardeiam tudo que os incomoda. Nunca é demais ressaltar que tais idéias estapafúrdias, embora partam de setores ligados à esquerda e ao Exército, refletem pontos de vista de setores minoritários e pouco representativos dos mesmos. "Os conceitos atribuídos às entidades nominadas são de inteira responsabilidade de quem os formulou, não havendo vínculo de nenhuma delas com o Exército brasileiro", foi a declaração, por escrito, emitida pelo Centro de Comunicação Social do Exército em resposta ao questionamento de VEJA sobre as teorias conspiratórias elaboradas por entidades ligadas ao meio militar. "Além disso, é impensável que a opinião pública internacional endossasse uma operação dessas", corrobora o coronel Manuel Cambeses Júnior, coordenador de relações internacionais da Escola Superior de Guerra.

Claro que a questão da segurança da Amazônia é importante. A presença do Exército defendendo as fronteiras da região é, sem sombra de dúvida, essencial. Não por causa da hipótese delirante de uma invasão americana, mas porque a parte brasileira da floresta se situa num pedaço conflagrado da América do Sul, onde grassam o narcotráfico, guerrilhas de esquerda e grupos paramilitares de direita. Boatos na internet têm de nocivo o fato de que eles desviam a atenção do que é realmente relevante. Mais importante que discutir algo que não está em questão – a soberania brasileira sobre a Amazônia – é debater o desenvolvimento sustentado, ou seja, como levar progresso à região sem destruir a floresta. Para isso, é essencial algo que causa urticária nos xenófobos que falsificam mapas na internet: capital estrangeiro. É graças a uma doação de 280 milhões de dólares, a fundo perdido, do G-7, o grupo de países mais ricos do planeta, que o governo federal está, entre outras coisas, desenvolvendo um programa de fiscalização da floresta via satélite, indispensável para impedir o desmatamento da região por parte de madeireiras. Além disso, empréstimos do Banco Mundial vêm fomentando enormemente o ecoturismo, considerado uma das vigas mestras do desenvolvimento sustentado. Por último, os institutos que pesquisam a biodiversidade, ou seja, como empregar as diferentes espécies da Amazônia na produção de remédios e cosméticos, são também em parte financiados com dinheiro de fora. "Estamos atrasados no mapeamento da biodiversidade, e isso é fundamental para fechar acordos vantajosos para o Brasil nessa área", observa Mary Allegretti, titular da Secretaria de Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente. Numa época em que captar recursos e negociar bons contratos é o mais importante, tudo de que o Brasil não precisa é um ambiente xenófobo fomentado por boateiros on-line.

É importante que estejamos atentos a este tema, uma vez que a Amazônia é um bioma de suma importãncia para o equilíbrio homeostático do planeta. Suas riquezas hídricas, minerais, vegetais e animais, atiçam a cobiça por seus domínios. Talvez a internacionalização já esteja acontecendo de outra maneira. Para muitos especilaistas, ela já começou através da privatização da Amazõnia.

Para rebater esta idéia, a ministra Marina da Silva fez o seguinte comentário no dia 04/08/2004, ao participar da abertura da 1ª Conferência Sul-Americana sobre o Combate à Desertificação, na sede do Banco do Nordeste, no Passaré.

“É uma inverdade essa história de privatização da Amazônia. Até porque o programa que o governo está elaborando é exatamente para evitar a grilagem de terra e qualquer tipo de pretensão com relação à Amazônia que não respeite a sua soberania''.

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